Fortalecer um turismo que vai muito além dos pontos turísticos famosos foi o propósito de uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná. O Turismo de Base Comunitária (TBC) contribui para atividade socioeconômica, a política e a emancipação de povos e comunidades tradicionais por meio da valorização cultural, conservação ambiental, geração de emprego, renda e inclusão social e é tema de um projeto de lei que tramita na Casa.
A iniciativa do deputado Goura (PDT), nesta terça-feira (13), reuniu de forma presencial e on-line especialistas, representantes de órgãos públicos, empresas, universidades e de diversas comunidades paranaenses para ampliar a discussão e trazer contribuições à iniciativa 138/2021, que estabelece diretivas sobre o Turismo de Base Comunitária no estado.
A proposição assinada por Goura ganhou a coautoria das deputadas Mabel Canto (PSDB), Cristina Silvestri (PSDB) e Luciana Rafagnin (PT), dos deputados Arilson Chiorato (PT), Delegado Jacovós (PL), Professor Lemos (PT) e Tercílio Turini (PSD), além dos ex-deputados Soldado Fruet, Nelson Luersen, Delegado Fernando Martins
“O turismo é uma grande indústria, uma indústria não poluente. Queremos fortalecer aqui no Paraná o Turismo de Base Comunitária, como forma de incentivar uma política pública de turismo que envolva ativamente as comunidades. Estamos falando de locais onde há comunidades históricas, que vivem lá há centenas de anos e que, na maior parte das vezes, não são ouvidas nesse processo, não são respeitadas”, afirmou o deputado, ressaltando a realização da Audiência Pública como um dia histórico para o estado.
“São indígenas, quilombolas, faxinalenses, caiçaras e outros, que possam ter voz ativa na elaboração dessas políticas públicas. Pensando que o turista irá para ver os atrativos naturais e também conhecer a cultura local. Há uma riqueza enorme no Paraná que não pode simplesmente ser ignorada. É uma política muito importante, uma tendência no mundo inteiro e que queremos ver implantada no nosso estado”, acrescentou o parlamentar.
O vereador e presidente da Comissão Municipal de Turismo da Câmara de Foz do Iguaçu, Adnan El Sayed, participou presencialmente no evento. Ele contou estar replicando na cidade um projeto de lei semelhante à proposta estadual e falou da relevância da inciativa.
“Um debate importante porque o turismo é bastante presente no Paraná e pulsante em Foz do Iguaçu. Temos as Cataratas, a Itaipu e queremos fazer com que esses ganhos do turismo sejam ampliados para as comunidades e não apenas centralizado nas grandes atrações. É de extrema importância, pois significa o desenvolvimento econômico que as comunidades não usufruem”, citou.
Uma das referências sobre o tema, a professora do curso Gestão de Turismo da UFPR Litoral, Beatriz Cabral, reforçou a necessidade de sensibilização em relação ao assunto. “O TBC é protagonizado pelas comunidades, mas temos de reconhecer a importância das parcerias. Não é porque é TBC, que é precário e sem apoio. Precisamos pensar na educação do visitante, dos profissionais de turismo que são parceiros, para que não gere os mesmos vícios do turismo convencional, trabalhar no tempo e no interesse da comunidade”, afirmou, ressaltando a realização da Audiência Pública como um dia histórico para o estado.
Indigenista especializada e chefe da Coordenação técnica da Funai em Paranaguá, Caroline Willrich, ressaltou que trabalha na área de Mata Atlântica mais preservada do mundo. “São oito aldeias indígenas. E existe uma instrução normativa da FUNAI para o turismo em terras indígenas, baseada no turismo de base comunitária. O que falta hoje é a gente esse fazer os planos de visitação, uma estrutura para construir um turismo que seja bom para todos: para o turista e para o indígena”, ponderou.
Representando o presidente da Itaipu Binacional, Ênio Verri, a Assessora de Turismo da empresa, Aline Teigão, definiu o TBC como um turismo de propósito, para promover a inclusão produtiva, a manutenção do jovem nas comunidades e a conservação do patrimônio.
“A conexão da pessoa com o lugar hoje acontece muito pouco com o turismo tradicional. Com o TBC vem a consciência, que se transforma em respeito e contribui para valoriza a cultura e manutenção de tradições”, afirmou.
Professora da UEM e da Unespar, Juliana Teixeira, detalhou a tese que realizou um mapeamento estadual sobre o tema e expôs a relevância da descentralização do turismo para que as comunidades tenham real condição para conduzir a sua gestão turística.
Responsável pelo Núcleo de Sustentabilidade e Responsabilidade da Secretaria de Turismo (Setu), Rhayane Radomski, indicou o compromisso do órgão em abrir diálogos e promover iniciativas para o setor. “Há um projeto em andamento para gestores municipais tratando de destinos de turismo responsável. É importante abordar o TBC, sensibilizando os gestores sobre o tema, com suas peculiaridades, porque não é um turismo padrão”, reconheceu.
Também representando a Setu, a Coordenadora de Gestão e Sustentabilidade, Anna Carolina Vargas de Faria, indicou possibilidade da criação de um grupo de trabalho para discutir tanto questões legislativas como operacionais do TBC.
“Quando temos o privilégio do contato com as comunidades, que são as mais diversas, há uma troca de saberes. Nós, da academia, aprendemos muito. Isso nos motiva a trabalhar o turismo como uma grande área de pesquisa e extensão. O TBC precisava dessa união, de tantas áreas, aqui representadas nesta audiência”, acrescentou o professor do curso de Turismo da Unioeste, Sergio Winkert.
Assessora técnica da Diretoria de Políticas Ambientais da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest), Isabela Tioqueta, disse existir um esforço coletivo para dar continuidade a todos os esforços das comunidades. “O interesse é buscar resultados efetivos. O processo do TCB é muito participativo e uma palavra que define é o pertencimento”.
Exemplos
Representantes de várias comunidades e projetos expuseram a realidade das comunidades e reforçaram a necessidade de debate.
Vanessa de Lima Marques, que atua na comunidade Paiol de Telha, o primeiro território quilombola reconhecido no Estado, falou da importância da geração de renda, especialmente para a permanência dos jovens nas localidades. “O TBC contribui evitando que a cultura desses povos se perca. Por isso, importância de buscar políticas públicas para ajudar essas comunidades”.
“O papel mais bonito do TBC é fazer com que as pessoas não saiam da localidade, porque promove uma renda. Quando os moradores antigos permanecem, a natureza é protegida”, destacou a representante da comunidade de Cabaraquara, em Guaratuba, Wanderlea da Rocha Alves.
Muitos participantes, como Joyce Mendes e Joanides Gonçalves, de Guaraqueçaba, no litoral, destacaram a oportunidade que o TBC oferece ao turista de vivenciar as realidades locais.
“Muitos jovens saem da cidade por não haver uma oportunidade de emprego, sendo que nossa região tem grande oferta para o turismo comunitário. Falta visibilidade para essa forma de atividade”, ponderou a estudante de Turismo na UFPR, Jenifer Silva, que desenvolve o turismo comunitário em Antonina.
“A Ilha do Mel não é só esse turismo de praia e sol. Temos há anos essa essência do Turismo de Base Comunitária e hoje tem ganhado força para que o turista conheça a nossa realidade, a vivência da ilha”, disse o marinheiro e agente cultural, Amani Fernandes Alves.
Ângela Nardelli, do Projeto Rede Pinhal, ressaltou que a iniciativa surgiu da importância de interiorização das discussões. “O TCB acontece na coletividade e o objetivo da entidade é articular o turismo, apoiando a visibilidade e o intercâmbio de saberes de diversas iniciativas, para todas crescerem”.
Encaminhamento
O deputado Goura definiu o encaminhamento do projeto de lei 138/2021 a todos os participantes para que as contribuições sejam encaminhadas à Casa a fim de ser votado no segundo semestre. “Objetivo é ter uma Lei do Turismo com Base Comunitária, regulamentada e ativa, impactando todo o Estado”, concluiu o parlamentar.
Por: Ana Luíza Mikos/Assessoria Alep
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