A crise sanitária provocada pela pandemia da Covid-19, que se prolonga por mais de um ano, teve impactos inesperados em diversos setores da sociedade. No setor da mobilidade ativa, o reflexo mais expressivo foi na economia da bicicleta, que registrou aumento de 50% nas vendas de bicicletas em 2020 em comparação a 2019.
Para debater este e outros aspectos da economia e cultura da bicicleta, o deputado estadual Goura (PDT-PR) conversou, nesta segunda-feira (15), com o pesquisador e cicloativista Daniel Guth, diretor-executivo da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança-Bike). O evento foi transmitido nas redes sociais do deputado e pode ser visto na íntegra no vídeo abaixo:
Bicicleta na pandemia
“Este crescimento na venda de bicicletas no país é só um aspecto nessa pandemia. É perceptível que mais pessoas passaram a usar a bicicleta como meio de transporte na pandemia”, afirmou Goura. Mas ele disse que faltou aos governos, ao poder público agir para favorecer e ampliar o uso da bicicleta durante a crise sanitária.
“Os gestores não foram capazes de implantar medidas como a ampliação da malha de ciclovias e ciclofaixas, implantar compartilhamento e bicicletários públicos, principalmente, nos terminais de ônibus e, assim, incentivar a intermodalidade”, criticou Goura, que também disse que o que foi feito até agora foi quase insignificante.
Na mesma linha, Guth disse que a pandemia ampliou a discussão sobre a bicicleta e o seu uso durante a crise sanitária. “O debate sobre a bicicleta ganhou mais espaço. Mas no que diz respeito às políticas públicas, ficamos muito aquém do que poderia ter sido ou do que pode ser feito agora, neste momento”, destacou Guth.
Bicicleta invisibilizada
Goura alertou para o fato de que a bicicleta sempre esteve presente como meio de transporte de parte da população e que o maior problema é que não se trata da bicicleta com a devida prioridade na gestão pública. “É um erro dizer que não se usa bicicleta para o transporte. A bicicleta sempre esteve presente. Só que no geral são invisibilizadas.”
O deputado destacou que o problema é a falta de políticas públicas, de investimento em infraestrutura e outras medidas para favorecer o seu uso para mudar esta situação. “A bicicleta não é vista pelo motorista que atropela e nem pelo planejador urbano que não pensa nela como meio de transporte ou pelo político que não pensa em legislação específica”, destacou Goura.
Economia da bicicleta
“A economia da bicicleta contribui diretamente para vários dos ODSs (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU e consequentemente tem que ser fortalecida. Temos que facilitar o acesso a ela e cobrar mais políticas públicas para o setor da bicicleta”, afirmou Guth.
Ele apresentou alguns números do setor no Brasil. “Somos o quarto maior produtor de bicicletas, com cerca de 4 milhões de unidades por ano. “Uma análise recente do IBGE estima que existam cerca de 33,2 milhões de bicicletas nas residências brasileiras.”, informou Guth.
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Cultura da bicicleta
O deputado disse que neste contexto amplo sobre a economia da bicicleta é preciso dar destaque e fomentar essa cultura nas cidades. “O mundo da bicicleta tem uma cultura própria. Como eu já disse a bicicleta está aí, nas cidades, na vida das pessoas há pelo menos 200 anos.”
“Agora, é preciso repensar o desenho urbano. As cidades precisam ser repensadas. A gente distanciou o local de trabalho do local de moradia, do local de estudo. E isso favoreceu o uso da mobilidade motorizada”, detalhou Goura. Segundo ele, o desenho urbano tem que ser repensado. “É possível e viável promover os deslocamentos por bicicleta ou mesmo a pé. Só precisamos de políticas públicas para a mobilidade ativa.”
Para o diretor da Aliança-Bike, estas mudanças não exigem investimentos ou ações gigantescas. “Com o redesenho urbano pode-se trabalhar questões integradas como a habitacional e a da oferta de empregos próximos ao local de trabalho. Assim se promove naturalmente a caminhada o uso da bicicleta”, disse.
Guth disse que durante a pandemia também poderiam ser tomadas outras medidas. “Como se reduzir a carga tributária sobre as bicicletas para que a população tenha mais acesso. Também criar uma rede extra de ciclovias e ciclofaixas temporárias nas cidades. Ou até mesmo uma linha de crédito específica para comprar bicicletas”, sugeriu.