Espiritualidade, Política e Crítica Social e o despertar para a transformação do mundo foram os temas do encontro que reuniu o deputado estadual Goura, o Lama Padma Samten do Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) e Carlos Ferreyros, coordenador da América da sangha Nalandabodhi ligada ao Lama Dzogchen Ponlop Rinpoche, neste domingo (27), no espaço Gandiva Yoga.
Segundo os debatedores, a atual momento de crise pode ser o momento ideal para despertar mudanças profundas na humanidade e na sociedade.
Assista ao vídeo com a íntegra do encontro:
O deputado Goura trouxe reflexões importantes do clássico milenar da Bhagavad Gita, que é um ensinamento de Krishna a Arjuna, dado no campo de batalha de Kurukshetra, na Índia.
Goura destacou que o texto fala sobre o equilíbrio necessário entre ação e contemplação. “Krishna ensina Arjuna sobre o karma, a ação que devemos executar mesmo quando difícil. Não se trata de fugir, mas agir com consciência. A espiritualidade não é afastar-se do mundo, é atuar nele com sabedoria e responsabilidade”, afirmou.
O Lama Samten lembrou a perspectiva budista Vajrayana e reforçou que as dificuldades enfrentadas por grandes líderes espirituais como o próprio Buda não foram problemas insuperáveis, mas momentos para aprofundar ensinamentos e mudanças reais.
“O capitalismo moderno é, como disse o Papa Francisco, um sistema antivida, incapaz de lidar com as desigualdades sociais e ambientais. Estamos vendo estruturas gigantes racharem e afundarem como o Titanic. Precisamos agora olhar para cima, buscar referenciais espirituais elevados para recriar nossa sociedade.”
Oportunidades
“Vivenciamos Kali Yuga, a era da decadência espiritual. Mas crises são também oportunidades”, afirmou Lama Padma Samten. “Quando grandes estruturas começam a desmoronar, como vemos hoje nas sociedades modernas, abre-se espaço para o surgimento de novas formas de vida e organização social, mais justas e sustentáveis.”
Carlos Ferreyros falou sobre como atitudes simples de reflexão podem ser muito úteis para a tomada de decisões: “As condições externas têm impacto sobre nossas condições internas, mas não há receitas prontas. A famosa frase ‘conhece-te a ti mesmo’ é crucial”, afirmou.
Tomada de decisões
E ele explicou qual é o seu método de tomada de decisões. “Precisamos perguntar: minha ação é em favor de algo ou alguém, ou contra? Estou agindo com julgamento ou buscando compreensão? Minha ação gera incômodo ou dificuldade? É assim que decidimos quando agir ou não agir.”
“Estamos em um momento único, onde espiritualidade, política e crítica social podem se unir para transformar a vida das pessoas e salvar o planeta da destruição iminente. Cada um de nós pode ser a mudança que queremos ver no mundo”, disse Carlos.
Ferreyros ainda lembrou figuras históricas como Ashoka e Padmasambhava, que, através de suas ações conscientes, promoveram mudanças profundas em suas sociedades. Ele também explicou o trabalho da sangha Nalandabodhi e do Lama Dzogchen Ponlop Rinpoche, que visam unir práticas internas de meditação e autoconhecimento com ações externas conscientes e responsáveis.
Na sequência do debate o Lama Samten reforçou que é necessário agir para mudar a situação atual. “Não podemos mais aceitar um sistema educacional e econômico que gera violência e desigualdade. Temos que criar algo novo, baseado em sabedoria espiritual, compaixão e entendimento profundo da interdependência humana e ambiental.”
Momento decisivo
Para Goura, esse é um momento decisivo: “Precisamos entender que o que acontece com o mundo também acontece conosco. As decisões políticas, sociais e econômicas precisam ser pautadas por uma ética espiritual clara e prática, voltada à redução do sofrimento humano e à preservação ambiental”, declarou.
“O Paraná é um exemplo claro disso. Somos o maior produtor orgânico do país, mas também os maiores consumidores de agrotóxicos. Precisamos ter clareza sobre o tipo de ação que queremos: a favor de um novo modelo de vida, mais sustentável e harmonioso, e não apenas contra o atual modelo de destruição”, destacou Goura.
Segundo Goura essa contradição é brutal. “E é aí que a política tem que entrar: criando leis, defendendo o que importa, fortalecendo a autonomia das pessoas. É isso que me move: transformar consciência em ação concreta”, disse.
Motivação altruísta
“O que me move é transformar consciência em política pública. É isso: aprovar leis que defendam a vida, promover autonomia, enfrentar desigualdades e agir com coragem diante do colapso que já está em curso. Porque não dá pra esperar. É agora ou nunca”, concluiu Goura.