Mandato Goura

Agricultura familiar e turismo de natureza podem criar novo ciclo de desenvolvimento para Adrianópolis e Vale do Ribeira

Agricultura familiar, cicloturismo, turismo de base comunitária e de natureza são grandes potenciais do município de Adrianópolis, localizado no Vale do Ribeira, às margens do Parque Estadual das Lauráceas.

 

O Mandato Goura esteve na região, nos dias 24 e 25 de junho, e teve a oportunidade de conhecer iniciativas como a horta comunitária do Quilombo Corgo das Moças (Corgo é a forma como a comunidade pronuncia a palavra córrego e pede que assim seja citado) e os atrativos turísticos do Quilombo João Surá.

 

Na ocasião, o chefe de gabinete, Ivo Reck, do Mandato Goura, entregou ao prefeito Vandir de Oliveira Rosa o registro de algumas emendas destinadas ao fortalecimento desses setores no município.

 

Entre elas estão recursos para sinalização turística, veículo utilitário e um trator agrícola, além de recursos equipar uma cozinha comunitária que está sendo planejada pela Associação do Quilombo Corgo das Moças, que irá atender todas as comunidades.

 

“Essas emendas atendem as nossas necessidades. Porque, hoje, nós temos condições de trabalhar a olericultura e fruticultura. Basta a gente incentivar os agricultores familiares a melhorar. O turismo a gente tem que começar do zero. Não existe nada. Mas tem um grande potencial”, afirmou o prefeito.

 

Vandir Rosa ressaltou que investir nesses setores é incentivar o desenvolvimento sustentável, que não traz impacto ao meio ambiente, melhora a qualidade de vida e gera renda para a população.

 

 

Desenvolvimento sustentável

 

Localizado a 130 km de Curitiba, o município de Adrianópolis possui cerca de 6 mil habitantes e tem, historicamente, a sua maior fonte de renda na extração de minérios. Até 1995, o ouro, chumbo e a prata e, mais recentemente, uma cimenteira movimentam financeiramente o município. Porém, é justamente esta característica econômica que a atual gestão pretende mudar.

 

“A cimenteira tem os prós e os contras. Tem os benefícios de desenvolver o município e os impactos. Mas a curto e a médio prazo, o que nós pretendemos aqui em Adrianópolis, para gerar mais emprego e renda, é basicamente investir na agricultura familiar e no turismo”, observou o prefeito.

 

Agricultura Familiar

 

Em Adrianópolis encontra-se o maior número de Comunidades Remanescentes de Quilombolas (CRQ) do Paraná. São 11 no total. A maioria delas com grande potencial para a agricultura familiar.

 

“Hoje nós temos produções de agricultores familiares e comunidades quilombolas que tem muitas condições de produzir. O que precisa é de um suporte, de uma ajuda da prefeitura, do estado para ajudar na melhoria da qualidade dos produtos, no transporte e no mercado consumidor”, afirmou o prefeito.

 

A grande dificuldade no que diz respeito à agricultura familiar, de acordo com o prefeito Vandir, é a manutenção das estradas rurais, principalmente nas comunidades quilombolas. “Temos mais ou menos 750 km de estradas rurais e é de lá do final das linhas que saem os produtos”, explicou.

 

 

Organização da cadeia produtiva

 

Ciente desse potencial, a prefeitura, em parceria com associações de agricultores familiares e cooperativas, está iniciando um trabalho de organização e fortalecimento da cadeia produtiva. “Se produzirem unidos, se consegue diminuir os custos, se consegue oferecer maior volume de produtos”.

 

Este é o objetivo da Associação do Quilombo Corgo das Moças, que já desenvolveu um projeto de horta comunitária, da qual participam atualmente cinco famílias, e agora pretende construir uma cozinha comunitária para atender todas as comunidades que necessitem beneficiar seus produtos.

 

“Essa horta era feita por sete famílias, hoje somos em cinco. Porque sozinhos a gente não tinha condições de plantar e não tinha espaço. Então a gente conseguiu esse espaço aqui e hoje produzimos alimentos da agricultura familiar para a escola”, explicou o professor e secretário da Associação, Gedielson Ramos Santos.

 

Cozinha Comunitária

 

Com a produção organizada e a pleno vapor, o próximo passo é literalmente tirar do papel o projeto da cozinha comunitária. O terreno e o projeto já estão garantidos através de doação e com a emenda direcionada pelo deputado Goura, vai ser possível equipar a cozinha.

 

“Pra nós é importante porque nós temos muita mandioca, abóbora. A gente faz pães, doces, e não consegue vender isso para o estado porque a gente não tem uma cozinha dentro das normas da Vigilância Sanitária. Então essa cozinha já faz quatro anos que a gente vem correndo atrás”, observou Gedielson.

 

Os materiais para a construção também estão sendo arrecadados por meio de doações para que a cozinha se torne realidade o mais rápido possível.

 

“Dentro do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) a gente atende vários produtores. Então a gente não trabalha no individualismo. E a ideia da cozinha é que todas as comunidades do município de Adrianópolis, são 11 comunidades quilombolas, venham beneficiar esse produto aqui. E além do PNAE temos o mercado para fora”, explicou Gedielson.

 

 

Turismo de Base Comunitária e Cicloturismo

 

“Eu quero estudar alguma coisa que eu possa usar aqui, como engenharia ambiental ou algo assim. Porque eu quero ficar aqui, trabalhar e continuar a nossa história”. Este é o desejo do jovem Renato, que aos 18 anos, é o braço direito do seu João Andrade Pereira, liderança do Quilombo João Surá.

 

 

A comunidade resiste há mais de 200 anos e tem no turismo de natureza a grande esperança para geração de renda e melhoria da qualidade de vida da população. A região sofre com a falta de infraestrutura que gera, entre outros problemas, o êxodo dos jovens busca de trabalho nos grandes centros.

 

“A gente tá deixando o quilombo porque não tem mais espaço pra produzir, os jovens vão pra escola e não tem políticas públicas para que possam permanecer no território. Esses jovens estão indo e a comunidade acaba diminuindo mais”, afirmou Gedielson.

 

Além da precariedade das estradas, falta de pontes e dificuldade de acesso a algumas localidades, a população sofre com energia elétrica fraca, internet e telefonia precárias, transporte público ruim e enfrenta a pressão de fazendeiros que têm interesses nas terras.

 

Mas, basta um olhar mais atencioso para perceber o grande potencial. O Mandato Goura, acompanhando do seu João Pereira e seu filho Renato, teve a oportunidade de conhecer alguns dos atrativos da região, que fica dentro da área do Quilombo João Surá, como a gruta chamada pela comunidade de Toca da Onça.

 

 

Para chegar até lá é necessário percorrer uma trilha costeando o Parque Estadual das Lauráceas, atravessar rios e córregos, e se aventurar em meio à floresta que tem belas paisagens.

 

História de resistência

Além do turismo de natureza e de contemplação, é possível o desenvolvimento de rotas de cicloturismo e o turismo cultural e histórico, visto que a região guarda o maior número de Comunidades Tradicionais e Remanescentes de Quilombolas do Paraná. Nesse contexto, o Vale do Ribeira é uma das regiões de povoamento mais antigo do Estado.

 

Na CRQ João Surá, a comunidade já está desenvolvendo o projeto da Casa de Memória, uma espécie de museu onde serão organizados os objetos, documentos, fotos e tudo que possa fazer parte da história desse povo que resiste a mais de 200 anos.

 

Conforme relatos do Grupo de Trabalho Clóvis Moura, os negros que há mais de 200 anos estão no local são descendentes de escravizados que fugiram da mina de ouro que existia em Apiaí (SP) e chegando ao território em busca de liberdade, estabeleceram vínculos de amizade com os índios que moravam na região, toda de mata fechada.

 

As famílias que por muito tempo resistiram às invasões de pescadores, mineradores e de madeireiros foram também pressionadas por fazendeiros para que vendessem suas terras por valores irrisórios quando várias famílias não negras chegaram à região para a exploração de recursos naturais encontrados na região.

 

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