Nesta semana, o deputado estadual Goura (PDT) iniciou uma série de visitas às comunidades de Curitiba para conhecer as condições de moradia da população e divulgar a primeira Conferência Popular de Habitação de Curitiba e Região Metropolitana, que será realizada entre nos dias 5 e 9 de outubro.
“Curitiba se vende como uma cidade modelo, mas esconde seus problemas, como é o caso da habitação. Curitiba não tem uma política de habitação social. Quem na prefeitura faz esse diálogo com a comunidade?”, questionou o deputado durante visita à Vila Joanita, onde vivem cerca de 400 famílias, sendo a maioria em situação irregular.
Nesse contexto, a criação de uma Secretaria Municipal de Habitação é uma das propostas defendidas pelos organizadores da Conferência Popular de Habitação.
“Temos que trabalhar na perspectiva da necessidade das pessoas e não do lucro, como faz a Cohab (Companhia de Habitação). Temos que questionar quantos imóveis estão abandonados na Região Central e que poderiam servir de moradia social”, observou Goura.
Clique na imagem abaixo e saiba mais sobre a Conferência.
Moradia é direito fundamental
O advogado e mestre em Geografia, Bruno Meirinho, que acompanha a situação da Vila Joanita e conhece a realidade histórica desta e de outras ocupações, explicou que a vila se constituiu há muitos anos em um terreno particular que nunca foi reivindicado pelos proprietários.
Com a falta de uma regularização fundiária, a prefeitura não fornece os serviços básicos para a comunidade, que resiste pela organização popular. Além disso, com o crescimento da cidade, a região virou alvo de especulação imobiliária e a comunidade se sente cada vez mais pressionada a abandonar suas casas.
“Habitação é uma condição de cidadania. É um direito fundamental e tem que ser assegurado pelas políticas públicas. A união de todos em torno dessa causa é o que fortalece a luta”, afirmou Bruno.
Vontade política
Liderança da Vila Joanita, Júnia Celle da Costa Silva, acompanhou Goura e Bruno para mostrar a situação de abandono em que vivem os moradores por parte do poder público. “Se tivessem vontade política resolveriam o problema de habitação”.
Dona Júnia, como é carinhosamente conhecida, destacou a situação de calamidade que se encontram os rios que margeiam a comunidade. Ali, em plena crise hídrica e climática, a realidade estampa a necessidade de ações urgentes de recuperação dos rios e córregos que, por falta de uma política de saneamento básico, acabam recebendo esgoto e lixo da comunidade.
“A gente fala de lutas. E todo mundo tem que fazer sua parte. Por isso, o morador tem que cuidar da rua e do rio também. Vamos debater ideias porque se a gente não chegar na democracia de debater ideias, não vamos a lugar nenhum”, ponderou Dona Júnia.
A líder comunitária também convidou toda comunidade para participar da Conferência. “Vamos fortalecer essa luta”.
Bolsão da Vila Formosa
Na terça-feira (14), o deputado Goura conheceu a realidade de algumas comunidades que integram o chamado Bolsão da Vila Formosa. Acompanhado por lideranças da União de Moradores e Trabalhadores/as (UMT), percorreu várias ruas das vilas Formosa, Canaã e Uberlândia.
“O que fica evidente é que regularização fundiária, habitação de interesse social e políticas urbanísticas em geral são a grande necessidade. Governo e prefeitura vendem uma imagem de Curitiba que não é a realidade. Precisamos despoluir os rios e investir muito em moradia para criar uma cidade ecológica de verdade, com justiça social e sustentabilidade”, afirmou Goura.
Entre as principais lutas das comunidades estão: moradia – pelo fim das cobranças injustas da Cohab e escrituras dos terrenos; assistência social e CRAS (Centro e Referência e Assistência Social) na região; asfalto, pontes e melhor urbanização (a maioria das pontes são de madeira e necessitam de manutenção); acesso às UPAS (Unidades de Pronto Atendimento), atendimento nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) e tratamento posterior para sequelas da Covid-19, e mais espaços públicos de lazer.
Origem das comunidades
O “Bolsão Formosa” está localizado na Região Sul e Curitiba e leva esse nome em alusão ao Rio Formosa, que pode ser visto em várias ruas das comunidades.
Além do Rio Formosa, outros afluentes margeiam a região, o que exige uma política de recuperação dos rios urgente, pois as comunidades sofrem com alagamentos que, além de destruírem bens materiais, provocam doenças por causa da contaminação das águas com esgoto e lixo.
As comunidades começaram a se formar na década de 1950 e hoje contam com cerca de 2 mil famílias. Segundo explicou Ivan Carlos Pinheiro, líder comunitário da Ferrovila, grande parte da população da região sobrevive da coleta de materiais recicláveis.
Além das vilas Formosa, Canaã e Uberlândia, visitadas por Goura, fazem parte do Bolsão as vilas Maria, Ferrovila, Candinha, São José e Leão.
Desde 2020 a comunidade está organizada através da UMT para fortalecer ações de solidariedade, organização popular e cobrança pelos direitos básicos da população.
Importante destacar que, na ausência do poder público, a região foi sendo estruturada pelos próprios moradores. Hoje a UMT mantém uma cozinha comunitária que já entregou mais de 10 mil marmitas. Também organiza cursos de capacitação em comunicação para jovens e incentivam a prática da economia solidária.
Reunião com lideranças
Antes de conhecer as comunidades, Goura se reuniu com lideranças da região na Associação da Vila Canaã. Entre elas estavam o professor Valdecir Ribeiro, que dá aula de Capoeira para adolescente e jovens; o jornalista e líder comunitário, Pedro Carrano, do Jornal Brasil de Fato; o líder comunitário Ivan Pinheiro, da vila Canaã, e as líderes comunitárias Kixirrá Jamamadi (Mari) e sua mãe, Dona Francisca, indígenas da região do Amazonas que foram expulsas do seu território, percorrem algumas regiões do Brasil e vivem em Curitiba há quatro anos.
Serviço:
Conferência Popular de Habitação Curitiba e Região Metropolitana
Data: de 5 a 9 de outubro de 2021
Transmissão: Brasil de Fato Paraná
A Conferência está sendo construída pelos mandatos do dep. estadual Goura, vereadoras Prof. Josete e Carol Dartora e vereador Renato Freitas em parceria com 20 coletivos ligados à moradia social e direitos humanos de Curitiba e Região.