Mandato Goura

Neste domingo (20) tem ato de protesto por justiça pela morte de Enzo e mais segurança para ciclistas

Um ato por justiça e pela vida em Curitiba será realizado, neste domingo (20), em homenagem ao ciclista Kristofer Enzo, que foi atropelado e morto por um ônibus do transporte coletivo, no Bairro Capão da Imbuia, na altura da Estação Tubo Pastor Manoel Virgílio de Souza, quando pedalava a caminho da escola, no dia 21 de fevereiro.

 

O protesto acontece no dia em que Enzo, o caçula de quatro irmãos, completaria 16 anos, neste 20 de março. Será realizada uma pedalada, com início às 9 horas e saída da Praça de Bolso do Ciclista, na Rua São Francisco, no Centro de Curitiba.

 

Reunião

 

A morte de Enzo e as circunstâncias em que ela ocorreu geraram comoção e revolta. Por isso, em reunião na sexta-feira (11), familiares, amigos, ciclistas, ativistas, políticos e representantes de entidades ligadas à ciclomobilidade e Direitos Humanos decidiram pela realização do protesto em memória de Enzo.

 

Nessa reunião, que aconteceu no Auditório Legislativo da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), os participantes decidiram unir forças e buscar justiça e soluções urgentes para garantir mais segurança aos ciclistas.

 

O deputado Goura (PDT), que é membro da Comissão de Direitos Humanos da Alep e chamou a reunião ampliada para ouvir a família de Enzo, afirmou que “a situação do atropelamento é criminosa por parte do condutor, segundo o delegado que comanda o inquérito, mas também por omissão e por falta de estrutura da prefeitura e do poder público como um todo, que não garantem condições seguras para que que pessoas possam pedalar”.

 

 

Protesto e homenagem

 

A pedalada de protesto terá início às 9 horas, na Praça de Bolso do Ciclista, na Rua São Francisco, no Centro de Curitiba.

 

De lá, os participantes seguem até a Avenida Presidente Affonso Camargo, 5025, local do atropelamento, para a realização do ato em homenagem ao Enzo e para cobrar da Prefeitura de Curitiba, do Governo do Paraná, do Detran Paraná e da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) duas ações imediatas: ciclofaixa Emergencial na Av. Pres. Affonso Camargo e abertura de um canal de comunicação entre ciclistas e Prefeitura de Curitiba em reuniões mensais.

 

O início da manifestação na Av. Presidente Affonso Camargo, próximo à estação tubo Pastor Manoel Virginio de Souza, está previsto para às 10 horas.

 

Os organizadores lembram que é necessário usar máscaras e que é possível participar de manifestação de bicicleta, skate, patins, a pé ou como quiser. Segundo eles, o importante é estar na rua lutando pela vida de Enzo e de todos os ciclistas do Paraná.

 

 

O atropelamento

 

O atropelamento que causou a morte de Enzo aconteceu por volta das 8 horas, quando ele ia para a escola, na Avenida Presidente Affonso Camargo, próximo ao terminal do Capão da Imbuia. Porém, a família só ficou sabendo por volta das 12h, quando a mãe e as irmãs viram uma reportagem sobre o ocorrido na televisão. Fátima, mãe de Enzo, reconheceu a bicicleta do filho.

 

Enzo pedalava pela canaleta do ônibus, já que no local não há estrutura segura para ciclistas, e foi atropelado quando um ônibus amarelo ultrapassava um biarticulado em local proibido.

 

“O grande tem que cuidar do pequeno independente da situação. Os ônibus se sentem donos porque não tem lei, não tem fiscalização, não tem redutor de velocidade. Não tem estrutura para cadeirantes, carrinhos de bebês e nem pra bicicleta. As pessoas xingaram a gente porque ele não podia estar ali. Mas se ele não andar ali, vai andar onde?”, questionou Kimberly, irmã de Enzo.

 

Na região, não há ciclofaixa ou ciclovia e as calçadas estão totalmente esburacadas, o que obriga os ciclistas a utilizarem as caneletas que acabam oferecendo, segundo eles, menos riscos que circular entre os veículos de passeio.

 

Ao contrário do que foi divulgado no dia do atropelamento, Enzo não estava pegando “rabeira” no ônibus. Testemunhas também afirmam que o motorista viu o menino antes de atropelá-lo. “Ele matou meu filho ultrapassando na faixa contínua e do lado esquerdo”, disse Fátima.

 

 

Descaso

 

Como se não bastasse a dor de perder tragicamente um filho e um irmão, a família de Enzo foi obrigada a lidar com a desinformação e com o descaso de autoridades, que em nenhum momento procuraram a família para falar da morte do filho.

 

“Eu não consegui abraçar meu filho. Vocês sabem o que é ver o filho coberto por um lençol branco pela televisão? A gente chegou lá não tinha mais nada, estava tudo limpo. O pessoal falava que não era meu filho, ninguém me dava informação. No IML não deixavam a gente reconhecer meu filho. Ninguém me perguntou se eu tinha um plano funeral, onde eu queria enterrar meu filho. Não colocaram nenhuma flor no caixão, nenhum véu”, desabafou Fátima ao contar que só conseguiu se despedir do filho quando, mesmo sob protestos da funerária, abriu o caixão que estava lacrado.

 

Segundo Fátima, o ônibus que atropelou Enzo foi lavado e colocado em circulação no mesmo dia.

 

“É muito difícil ver que a prefeitura não te procurou para nada. Ele é só mais um. Quem anda de bicicleta é excluído. Parece que bicicleta é só pra andar em parques. Mas como se chega até o parque? E ainda exclui as pessoas mais pobres, da periferia, que não tem carro e por isso utilizam a bicicleta”, acrescentou Kimberly.

 

Além de não prestar assistência à família, o prefeito Rafael Greca, respondeu de forma grosseira à Fátima, quando Fátima mandou uma mensagem particular em uma rede social do prefeito cobrando ações de segurança para os ciclistas.

 

“Me chamou de sem noção, mandou eu escrever melhor. Me senti muito ofendida. É como se ele tivesse ofendido a todos que perderam um filho ou irmão nessas condições”, contou.

 

 

União de forças

 

Participaram da reunião com Fátima e Kimberly, além do deputado Goura e assessores parlamentares, o presidente do Conselho Paranaense de Direitos Humanos (COPED), Marcel Jeronymo, a ativista e professora Viviane Mendonça (vou_de_bike_e_salto_alto); Regina Bacellar, da Comissão de Direito a Cidade da OAB; Yasmim Reck, Fernando Rosenbaum, Henrique Jakobi e Patrícia Valverde, da Cicloiguaçu; o fotógrafo e cicloativista, Doug Oliveira; o advogado Ramon Bentivenha; Ana Luz, da Bike Mirin, e Roberto Moreira, do Pedal Cajuru.

 

Além do ato do dia 20, os participantes da reunião definiram algumas ações para cobrar providências urgentes do poder público com o objetivo de garantir segurança e estrutura para ciclistas, bem como o acompanhamento jurídico e administrativo de todo o processo envolvendo o caso Enzo.

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